MANÉ SANTANA, UM OLEIRO DE MÃO CHEIA



Nos anos 70 eu era um rapazola ávido por conhecimento.Tanto um gibi dos heróis da época ou um velho jornal que eu encontrava pelos cantos  servia para preencher o meu tempo. Eu já atravessara aquele período insensato de caçar passarinhos com estilingue feitos com goma de câmara de ar de bicicleta. Dava agora continuidade ao aprendizado de desenho que começara la na infância. Sem papel e lápis, um graveto e a terra assoreada da lavoura da Gurita serviram-me como prancheta.

Mas hoje não quero falar de mim, e sim, de Mané Santana, um oleiro de mão cheia que existiu na pequena cidade de Bambuí, no estado de Minas Gerais. Trabalhava o homem a semana inteira em sua olaria mexendo o barro que cavava de um barranco, e com esse barro fabricava os melhores tijolos da cidade. Inúmeras residencias e prédios foram erguidos com os tijolos de Mané Santana. Sendo o segundo filho de um grupo de oito irmãos, o homem por algum motivo que desconheço não se casou, e portanto, não tinha herdeiros diretos. Era um homem de estatura normal e já nos seus quarenta e cinco anos, que é a idade em que me lembro dele, ainda conservava um vigor incrível.

Simples e modesto tinha apenas um defeito, se posso chamar de defeito beber aos finais de semana. Mas isso não o tornava mau ou mesmo desprezível, ao contrario, ele se tornava alegre e brincalhão gastando todo o seus ganhos com amigos e principalmente com a meninada do bairro, dando-lhes doces e balas. Ele adorava jogar as guloseimas para o alto só prá ver a molecada correr para pegar. Nunca soube de uma desavença dele, mesmo bêbado nunca desacatou ou magoou alguém, isso posso garantir pois cresci ali e acompanhei grande parte de sua vida. Mas numa manhã tivemos uma terrível noticia, encontraram o simpático oleiro morto de uma maneira que nem mesmo um cão de rua merecia. Estava de ponta cabeça dentro de uma fossa no interior de um bar situado na pracinha do Lava-pés. Como ele foi cair ali dentro ninguém sabe, pois o buraco era demasiado pequeno para um homem daquela estatura. Correu aos cochixos na época que alguém o tinha assassinado. Certamente quem o jogou ali aproveitou-se de sua bebedeira, arrancou o forro de madeira e o jogou lá dentro.  A policia foi chamada para acompanhar a retirada do corpo de Mané Santana daquela triste situação, e em seu sepultamento houve muitos que choraram sua partida, dentre eles, a molecada do bairro lamentou o acontecido.

A justiça da época foi falha, qualquer pessoa com um mínimo de senso de detetive solucionaria facilmente o caso, mas por ser o pobre homem simplesmente um oleiro bêbado ninguém fez conta para desmascarar o assassino que o enfiou de ponta cabeça naquela privada. Nem mesmo sua família se dispôs, se por simplicidade ou mesmo conivência. Eu particularmente lamentei demasiadamente o fato, e esperei que a justiça encontrasse o culpado. Mas essa não veio e o caso foi esquecido. Desde então se passaram quarenta e dois anos e acredite se quiser, acho que sou o único daqueles moleques que tem na memória a simpática figura do oleiro Mané Santana.

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