____O CANDEEIRO DE MONTIVIDIU/série:Contos verídicos
Era para ser uma viagem tranquila para os Martins, mas naquela noite algo muito estranho se manifestaria bem diante de seus olhos, deixando todos apavorados. Tinham saído já bem tarde de Uberlândia com destino à Medeiros para visitar parentes, e para encurtar a viagem, no trevo de Ibiá tomaram o rumo de Pratinha, e por ali, inevitavelmente passariam pelas acidentadas estradas de Montividiu. Aqueles caminhos antes da desejada pavimentação com asfalto era de difícil percurso, buracos e subidas íngremes triplicavam o tempo da viagem. E para atrasar mais a viagem chovia torrencialmente aquela hora.
Montividiu há muito anos atrás era uma fazenda muito próspera, e nesse tempo todo o trabalho era feito com mão de obra escrava. Os pastos onde se criava e engordavam milhares de cabeças de gado não eram cercadas com arame farpado e sim, com muros de pedras feitos à duras penas pelos sofridos escravos negros.
Além dos filhos, os Martins levavam de carona mais duas passageiras que aproveitariam também para visitar os pais que moravam em Medeiros. Era uma noite muito escura e já passava da meia noite quando alguém comentou que necessitava fazer xixi. A chuva antes forte dera uma trégua, e foi nessa parada que algo atraiu a atenção de Cleomar, que sem dizer nada a ninguém atravessou a cerca de arame que dividia a estrada e adentrou pasto adentro.
Como ele relatou depois, quando desceu do veículo viu uma claridade pairando acima da vegetação, observou que era uma luz amarelada com se fosse de um lampião. E a luz zanzava de um lado á outro como se estivesse sendo carregada por alguém. Sentiu-se atraído e decidiu seguir para ver o que era. Sua esposa vendo-o afastar-se demasiadamente preocupou-se, pois para fazer xixi aquela hora da noite não era preciso se afastar tanto, até que vislumbrou também a luminosidade que definia um estranho cenário aos olhos dos que estavam no veículo. Sem entender bem o que estava se passando desceu rápido e correu atrás do marido chamando-o de volta. Ao ouvir seu nome Cleomar se deteve, e a luz instantaneamente se apagou deixando o local em completa escuridão. Sua esposa tomando-o pelo braço trouxe-o de volta ao veículo, mas ele estava apático à realidade, comportava-se como se tivesse saído de um transe.
Certamente naquela escura noite, o candeeiro que iluminou as senzalas dos escravos durante décadas, ascendeu novamente para clarear as barrentas estradas de Montividiu; em tempo e local para o contato com o oportuno viajante, provavelmente o único ali com sensibilidade bastante para suportar as mensagens do desconhecido.
Trazendo Cleomar de volta a realidade empreenderam viagem rapidamente, agora se mantinham calados pois entenderam que a estranha aparição era algo que não era desse mundo. Certamente ainda se encontravam presas aquelas pobres almas que carregaram as pesadas pedras daqueles muros, e elas ainda estavam ali vivendo ainda aquele século de tantas injustiças. Precisavam se comunicar com alguém, e o candeeiro naquela noite era a tênue linha que separava suas existências da realidade atual daqueles viajantes.
Cleomar naquela noite escura e chuvosa esteve prestes a ser a ponte de contato com esse estranho mundo, pena que o temor ao desconhecido dos amedrontados viajantes tenha interferido.
Ainda hoje se quiserem comprovar a existência desses muros é só ir a Montividiu. Eles estão lá, frios, misteriosos e pedra por pedra guardam o segredo daquele sofrido povo escravizado. E se tiver sensibilidade, força mediúnica, ouvirá gemidos de dor e sofrimento, e se esperar mais um pouco poderá ser guiado pela luz do candeeiro, como fora Cleomar naquela fatídica noite.
A seguir poderá ler um depoimento de alguem que conhece o local e viveu uma situação parecida.
O Candeeiro de Montividiu é um conto verídico, e os nomes das pessoas que o vivenciaram foram trocados ou omitidos para sua proteção de identidades. Escrito e ilustrado por Joel Di Oliveira. Todos os direitos reservados.
Ao ouvir seu nome Cleomar se deteve... |
Certamente naquela escura noite, o candeeiro que iluminou as senzalas dos escravos durante décadas, ascendeu novamente para clarear as barrentas estradas de Montividiu; em tempo e local para o contato com o oportuno viajante, provavelmente o único ali com sensibilidade bastante para suportar as mensagens do desconhecido.
Trazendo Cleomar de volta a realidade empreenderam viagem rapidamente, agora se mantinham calados pois entenderam que a estranha aparição era algo que não era desse mundo. Certamente ainda se encontravam presas aquelas pobres almas que carregaram as pesadas pedras daqueles muros, e elas ainda estavam ali vivendo ainda aquele século de tantas injustiças. Precisavam se comunicar com alguém, e o candeeiro naquela noite era a tênue linha que separava suas existências da realidade atual daqueles viajantes.
Cleomar naquela noite escura e chuvosa esteve prestes a ser a ponte de contato com esse estranho mundo, pena que o temor ao desconhecido dos amedrontados viajantes tenha interferido.
Elas estão lá, pedra por pedra guardando o segredo daquele sofrido povo escravizado. |
Ainda hoje se quiserem comprovar a existência desses muros é só ir a Montividiu. Eles estão lá, frios, misteriosos e pedra por pedra guardam o segredo daquele sofrido povo escravizado. E se tiver sensibilidade, força mediúnica, ouvirá gemidos de dor e sofrimento, e se esperar mais um pouco poderá ser guiado pela luz do candeeiro, como fora Cleomar naquela fatídica noite.
A seguir poderá ler um depoimento de alguem que conhece o local e viveu uma situação parecida.
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O Candeeiro de Montividiu é um conto verídico, e os nomes das pessoas que o vivenciaram foram trocados ou omitidos para sua proteção de identidades. Escrito e ilustrado por Joel Di Oliveira. Todos os direitos reservados.
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