COMPANHEIROS ATÉ NA MORTE


A ESTRANHA E FELIZ MORTE DE TONHO BERNADIN
(CASO VERÍDICO –1974- OS NOMES E/OU LOCAIS SÃO FICTÍCIOS PARA RESPEITO E PROTEÇÃO AOS ENVOLVIDOS)

Já estava o matuto meio perrengue há bastante tempo sem fazer termo de morrer. Pai de treze filhos entre eles quatro lindas moças já casadouras, sofria com um mal que lhe consumia dia a dia. A esposa, dedicada a salvar o marido lhe fazia todos os agrados e buscava longe ramos e mandingas que outrens lhe ensinava, pois a medicina na época pouco ajudava. Mesmo porque o lugarejo em que moravam ficava longe de recursos e se os houvesse não tinham dinheiro suficiente para o tratamento. Estava condenado o pobre Tonho Bernadin, que por sua vez, resistia ao mal com imensa paciência e valentia, não deixando transparecer á família a dor e a tristeza que lhe passava pelo coração.
Durante meses se fez romaria pelos tantos amigos e vizinhos que tinham apreço pelo adoentado. Rezou-se novenas, terços mas de nada adiantou, não que não valesse os apelos aos santos apegados, é porque Deus o queria mesmo em outras paragens. Assim, mais uns seis meses de peleja estando sua sofrida esposa coando um café, Tonho Bernadin chamou a ela e os filhos e lhes disse serenamente:
_ Maria, não quero que chores e nem vocês meus filhos, porque chegou a minha hora!
A casa inteira desabou num choro só, e por mais que pedisse o morimbundo para que parassem de nada adiantava.
Sentindo –se responsável pelo sofrimento da família, Tonho Bernadin adiou por mais alguns minutos a sua partida. Tentava de todo jeito negociar um termo para que parassem as lamentações. Com muito custo, os filhos e a esposa se controlaram talvez achando que ele estivesse brincando, pois não se sabe de onde o homem tirava forças para os consolar. Vendo-os mais calmos, Tonho Bernadin novamente disse:
_Maria, venha, deite-se aqui ao meu lado, será a última vez que se deitará comigo!
Sua esposa lhe fez a vontade, meio contrariada mas foi. Os filhos choramingavam pelos cantos, na esperança que ele apenas estivesse brincando, pois jamais se soube que alguém na hora da morte conversasse naqueles termos. Mas estavam enganados, abraçado a esposa Tonho Bernadin deu um suspiro longo e descansou a cabeça no peito da esposa morrendo definitivamente. Por alguns segundos todos se olharam e vendo que ele realmente parara de respirar desabaram novamente no maior dos berreiros. Num é que Tonho Bernadin teve que retornar para lhes acalmar novamente? Abriu lentamente os olhos e reclamou a esposa:
_Maria, meus filhos, parem de chorar! Suas lamentações não me deixam ir!
_ Eu estou atrazado, o compadre Mané tá me esperando na porteira!
E dizendo assim fechou novamente os olhos, e dessa vez, definitivamente.

O filho mais experiente tomou-lhe o pulso e nada sentiu. Morreu Tonho Bernadin como um passarinho, sem dar trabalho ou mesmo sofrer com dores. Morreu conversando normalmente sabendo de todo o desenlace de sua morte.
O compadre Mané?! Esse foi um grande amigo de Bernadin que falecera ha três anos atráz.
Autor: Joel Di Oliveira / Todos os direitos reservados.

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